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Uma noite encantada! 

     

"Hey Amigo, Cante A Canção Comigo!"

 

Rio de Janeiro, 4 de Maio de 2005. Um dia para para ficar na história de nossa música: O Terço vai fazer um show para gravação de um DVD. Nada de mais, se não estivesse reunida a formação clássica do grupo, com Sérgio Hinds, Sérgio Magrão e Flávio Venturini. Desta vez NÃO levei meu fiel gravador cassete, responsável pelos antológicos registros que guardei durante minha adolescência e que venho dividindo com vocês em meus artigos aqui em SenhorF. O DVD vai me bastar (me arrependeria depois).

       Que bom ser colaborador do Senhor F nesta hora. Poder fazer uma resenha com a paixão de fã, e não com a obrigação de uma pauta. Lá fui eu, com quatro amigos que viveram, assim como eu, o lançamentos dos discos clássicos do Terço na nossa doce adolescência. Nove da noite, a entrada do Canecão estava apinhada de "ex-bichos-grilo", a turma que cresceu durante a ditadura ouvindo mágicas canções, bebendo mágicas poções e vivendo mágicas sensações.

 

                                    

       Ansioso para me aboletar em excelente lugar, forço a barra com os amigos para entrar logo e continuar a bebericar (a preços sugeridos pelo AA). Já em nossos lugares, vislumbro a presença de nosso ilustre colaborador de Senhor F, Nélio Rodrigues, meu orientador acadêmico, grande amigo e um dos maiores pesquisadores do Rock Brasileiro dos Anos 70. Sua presença já mostrava que os fluidos seriam os melhores nesta noite.

       O atraso de uma hora não provocou nenhuma reação negativa na platéia, nenhuma vaia ou apupo. Estes era o clima!

        Diferente de muitos shows, as luzes não se apagam. O palco ilumina-se ainda mais para receber os três ícones do rock brasileiro. A platéia vem abaixo apenas com a presença dos "meninos". Nota-se que na bateria está o "garoto" Sérgio Mello, o que leva à uma piada por parte de um de meus amigos: o Venturini tem que mudar o nome para "Sérgio" Venturini".

        Hinds dirige-se para a platéia e notam-se lágrimas em muitos espectadores, quase não acreditando que estavam novamente de frente para "as lendas". Eu era um deles, que no longínquo ano de 1977 pude assistir ao Terço e Mutantes, no Teatro Municipal de São Paulo, tocando Beatles. Para minha tristeza, a "fitinha cassete" daquele show ficou inutilizada, calando o registro que me fez conhecer o Terço. Jamais esqueci do barulho que o baixo de Magrão fazia naquele teatro. Ou da guitarra de Hinds. Mas voltemos aos dias de hoje. Exatos 28 anos depois eu estou novamente ouvindo o barulho do baixo de Magrão e o som da guitarra de Hinds. Claro que não vou esquecer de Flávio. Ou de me surpreender com a técnica do mais novo Sérgio do Terço, um baterista de mão cheia.

        O grupo começou a tocar e imediatamente estávamos de volta a 1974... Ah, que pena que é proibido fumar na casa de shows. Se não, o "fog londrino" completaria o clima de vez... O grupo estava coeso, ensaiado, tocando como nunca, apesar de sentirmos que o som dos teclados estava muito baixo e algumas falhas no som dos vocais. Mas a alegria estampada em todos fez com que isso passasse despercebido. Só a primeira música já valeu o ingresso e poderíamos ir embora felizes. A história do Terço estava dentro da "sinfonia 1974".

         Mas eles surpreenderam a todos ao cantarem Tributo ao Sorriso, com as devidas menções aos eternos 'Terços' Jorge Amidem e Vinícius Cantuária. Vocais perfeitos, execução idem. E mais brincadeiras surgiram, dizendo que Luiz Moreno, outro inesquecível Terço, havia pedido licença ao baterista e estava ali, sentado no "kit", passando as boas vibrações.

         Atacaram Guitarras, tirando o fôlego de todos e mostrando como se faz um show de rock e como uma platéia pode se divertir, "viajar", sem precisar enfiar uma porrada no cara do lado ou empurrar outra meia-dúzia na sua frente. Pura curtição (desculpem mas voltei aos Anos 70).

         Os pedais da guitarra de Hinds me fizeram esquecer a "bronca" por ele não estar tocando com sua lendária Gibson SG. O som era o mesmo, os timbres, a profundidade, o sustain. Estava tudo ali. Magrão continua dando uma aula de baixo rock'n'roll-lisérgico. Usando os dedos, ora a palheta, todos os nuances e possibilidades de seu baixo foram ouvidos. Flávio continua o mesmo mestre das teclas branco-e-pretas. Todos os arranjos e sonoridades dos discos estavam ali, e não me venham dizer os marrentos que era "sampler" porque não era! O carinha estava "tocando muito".

         As projeções no grande telão circular atrás do palco não eram de "mpegs entrelaçados", de "zilhões de mega bytes" de definição ou "x mil cores". Eram puro Anos 70, psicodélicas, geométricas, cores primárias, alternando-se com imagens do grupo agora e com fotos da época.

         Ouvir o grupo conversando conosco, era como uma roda de velhos amigos. Apresentaram a inédita PS Apareça, que já entrou no rol dos clássicos do grupo. Perfeita, totalmente integrada, mostrando que a volta do Terço, como muito bem dita por Sérgio Hinds, é DEFINITIVA. O processo de composição parece que nunca foi interrompido.

         Começou então o esperado momento "country-mineiro", o momento acústico do show, onde foram tocadas Jogo das Pedras, Queimada, Foi Quando Eu Vi Aquela Lua Passar e Pássaro. Os violões, as vozes, os solos, tudo estava impecável, limpo, "um barato". O ponto alto foi quando relembraram Moreno e os momentos que ficavam tocando na varanda da "casa encantada". Sua viúva, Irinéa Moreno, dividiu os vocais em Pássaro, como faziam. E no telão, cenas inéditas de Moreno com o Terço. Comovente!

         Continuaram o clima com Flor de la Noche, numa mistura das versões I e II do disco. Magistral. A sonoridade do Terço está irretocável, o tesão e alegria com que estão tocando é evidente. Não tem nada de "forçar a barra para tocar". Estão ali em evidente harmonia e sintonia com a platéia. Mais uma piada é lançada em nossa mesa, dizendo que Sérgio Hinds tira o "açúcar" das músicas. É puro rock and roll.

         Apresentam Casa Encantada e Vôo da Fênix, mantendo o astral sempre em alta. É incrível como o show não perde o pique ou tem aquele momento de relaxamento. As idas ao banheiro eram retardadas ao máximo, para não perder um só momento.

         Durante a apresentação de Ponto Final, Sérgio Mello fez um solo de bateria como eram os solos "setentistas": com ritmo, explorando cada peça do kit, os timbres dos pratos, inspiração ao invés de transpiração. Quando achávamos que ele não nos surpreenderia, o cara vai para os teclados e "dá-lhe viagem"!

         Uma rápida pausa e o grupo volta para nos brindar com seu naipe de convidados. Em Sentinela temos a presença do Quarteto Uirapuru (cordas) e Ruriá Duprat, sobrinho do lendário Rogério Duprat, e que vinha tocando com Hinds nos últimos anos. Ruriá fez os arranjos das músicas em que participou. A performance foi emocionante.

         Mas o melhor veio com Criaturas da Noite, onde juntou-se a todos Marcus Vianna, promovendo o "momento pantanal", conforme comentário em nossa mesa. O violino de Marcus rivalizava com a guitarra de Hinds. Os vocais de Flavio estavam perfeitos, nos brindando com uma antológica apresentação desta que eu considero uma das mais lindas músicas já registrada em vinil. E o solo de Hinds pode finalmente ser ouvido, já que na mixagem original em vinil (e absurdamente mantida na "remasterização" digital), a guitarra sumia atrás das cordas e teclados. O engraçado é que na versão em Inglês do disco, a guitarra foi mixada corretamente.

         Mais uma inédita, Suite, com a presença de Marcus Vianna e Ruriá Duprat. O que dizer? Hinds e Vianna promoveram um belo duelo e dueto, mostrando que o Terço nunca parou de tocar. Apenas descansou um pouco. Não dava para dizer "ah, está música é nova, soa diferente". É puro Terço.

         Aproxima-se o fim do show. Cabala é finamente apresentada, com o grupo parecendo que tinha acabado de entrar. É visível a alegria e empatia conosco. Os caras estavam realmente se divertindo.

         E aí veio aquela que era esperada a noite toda: Hey, Amigo! Cinquentões e quarentões cantando que nem garotos, com alegria, olhando pro camarada do lado e dividindo um sorriso. E todos cantaram com eles!

         Acabou? Que nada. Não esqueçamos que estamos assistindo a gravação do DVD do grupo. Tiveram músicas com problemas, lembram? Novamente temos a performance de Tributo ao Sorriso, 'Criaturas da Noite e Cabala. Quando o diretor do DVD disse que tinha mais uma que deveria ser refeita e falou 1974, o Canecão veio abaixo. Os caras arrasaram. Nunca via tamanho tesão em tocar uma música e a reação de alegria em nossos rostos em poder ouvir novamente a esta "sinfonia".

         Ao final da música, quando o grupo se despede e sai do palco, eu ouvi, ninguém me contou: HINDS IS GOD! E foi bem perto de mim, acho que na cadeira ao lado!

         Dirigi-me ao encontro de Nélio Rodrigues, já tramando uma presença de Senhor F nos camarins. Para nossa surpresa o Terço volta ao palco e toca... Hey, Amigo. Estávamos na fila do gargarejo. Mais vibrante e emocionante do que a outra versão. Eu viro para Nélio e digo "eu nunca imaginei que ouviria novamente Hey, Amigo com eles"! O sorriso de Nélio disse tudo. Foi lindo ver Hinds entregando a palheta para um fã, que a beijava sem parar.

         A fila do camarim foi um caso à parte: simplesmente vi-me cercado por Nélio Rodrigues, "o cara dos Anos 70", Daniel (guitarrista do Módulo 1.000) e de Mário Amidem, sim, o irmão de Jorge e membro original dos Libertos, grupo que originaria o Terço, onde estavam Magrão, Hinds e seu irmão. Ótimos papos com os músicos no camarim, os inevitáveis autógrafos em meu convite (não esqueçam, eu também sou fã!) e, por volta das 20 para as duas da madruga volto para casa, pois meu cachorro vai me acordar britanicamente às 6 horas.

         Apesar dos gritos de nossa mesa, não rolou Luz de Vela, pois Moreno não estaria lá para cantar: "Vou me tocando e chocando feito um elétron doido, até bater no seu peito querendo mesmo é repouso, com a clareza independente da luz" ... (caraca).

 

PS - Obrigado a Paulo Townshend, Maia, Mauro B e Mauro Z, pela companhia nesta noite inesquecível, cujos comentários procurei retratar nesta resenha.

PS 2: Infelizmente, por brigas e disputas com ex-integrantes do grupo, o DVD veio com sem muitas das músicas tocadas e efetivamente filmadas. Uma pena, mesmo sabendo que hoje as brigas foram sanadas e que a banda excursiona com quem sentiu-se excluído. Mas, o DVD não foi relançado com o show na íntegra.

 

SET LIST

- 1974

- Tributo ao Sorriso

- Guitarras

- PS Apareça (inédita)

- Jogo das Pedras

- Queimada

- Foi Quando Eu Vi Aquela Lua Passar

- Pássaro- Flor de la Noche

- Casa Encantada

- Vôo da Fênix

- Ponto Final

- Sentinela

- Criaturas da Noite

- Suite (inédita)

- Cabala

- Hey, Amigo

                   

DISCOGRAFIA

- LP "O Têrço" (Forma VDL 116) - 1970

- Cs "Velhas Histórias" / "Edifício da Avenida Central" (Forma 100.002) - 1970

- Cs "Eu Também Quero Mocotó / "Tributo ao Sorriso" (Philips 365.310 PB) - 1970

- Cs "Adormeceu" / "Vou Trabalhar" (Forma 100.010) - 1971

- Cd "O Têrço" - "O Visitante" / "Adormeceu" / "Doze Avisos" / "Mero Ouvinte" / "Trecho da Ária Extraída da Suite em Ré Maior" (Forma C 07 007) - 1971

- Cs "Ilusão de Ótica" / "Tempo É Vento" (Philips 6069 050) - 1972

- LP "Terço" (Continental SLP 10107) - 1973

- LP "Criaturas da Noite" (Underground COLP 12009) - 1975

- Cd "Criaturas da Noite" - "Queimada" / "Jogo das Pedras" / "Hey Amigo" / "Volte na Próxima Semana" (Undergroung CD 3728) - 1975

- Cs "Fields on Fire" / "Shining Days, Summer Nights" (Copacabana CS-1601) - 1976 (extraídas da versão em Inglês do LP "Criaturas da Noite", lançado na Europa)

- LP "Casa Encantada" (Underground COLP 12074) - 1976

- Cs "Amigos" / "Barco de Pedra" (Copacabana CS-1667) - 1977

- LP "Mudança de Tempo" (Underground COLP 12201) - 1978

- LP "Som Mais Puro" (Elektra BR 22062) - 1983

- LP "O Terço" (Estúdio Eldorado 193 900603) - 1990

- CD "Time Travellers" (Record Runner RR 0010-2) - 1992

- CD "Live at Palace" (Movieplay BS 251) - 1994

- CD "Live at Palace with Orchestra" (Record Runner) - 1994 - relançamento do anterior com duas faixas bônus

- CD "Compositores" (Velas 11-V160) - 1996

- CD "Spiral Words" (Revere) - 1998

- CD "Tributo a Raul Seixas" (Movieplay BS 329) - 1999

- CD "Ao Vivo - 1976" (Elemental Arts Records) - 2005

- CD "Ensaio" (?) - 2005

- CD "Ao Vivo" (Elemental Arts Records) - 2007